domingo, 15 de julho de 2012

Em busca de um final feliz

Ela, uma mulher de olhos grandes, de nome simples porém marcante, de sentimentos consistentes e pegajosos, que carrega dentro de si um desejo: o de encontrar outro desesperado por profundidades, alguém que se permita ser tão intenso quanto ela, alguém que a ame incondicionalmente, desesperadamente ou que só mostre sentimentos simples, recíprocos. Um príncipe encantado num cavalo branco, com uma rosa na lapela lhe estendendo a mão, é assim que sonha, é assim que imagina que virá seu grande amor, com toda a pompa e circunstância que sua imaginação de mulher boba lhe permite. Mas parece que só os cavalos haviam cruzado seu caminho até agora. Desde sempre fora apresentada a face dissimulada, enganadora dos homens. Prefere sentir a vida como um conto de fadas, como uma novela com final feliz. Deseja um grande amor, um homem avassalador. Aposta alto e na maioria das vezes quebra a cara, na maioria das vezes o que lhe resta são pedaços de um coração já cansado de sofrer, mas que sempre encontra um jeito de se reinventar. Sofre por todas as sequelas deixadas pela vida e cada amor que lhe abandona a própria sorte, como se não tivesse sentimentos ou fosse de ferro, cria nela uma dor insuportável como de uma espada cortando-lhe a alma, como se as dores dos outros amores viessem todas de uma vez torturá-la, dores de um aborto de amor, dores que ela não quer sentir de novo mas sempre lhe surpreendem, lhe pegam de surpresa. Nessas horas olha pro céu em busca de respostas, de alento, de paz, de novas forças e sempre é atendida, parece que o altíssimo entende seus sinais de emergência e com Ele é sempre mais fácil se refazer. Em suas inúmeras tentativas de acertar já havia errado muito de palpite. Parece que o destino não está de bem com ela, que sua sina é essa: amar errado, amar quem não a quer, amar quem não foi feito pra ela. Em seus vinte e poucos anos já tinha achado o grande amor de sua vida umas 4 vezes mas era só impressão, era só seu coração insistindo em seu objetivo, eram só seus olhos enganados com a beleza exterior, eram só seus ouvidos se enchendo de promessas absurdas e da boca pra fora. Enfim, leva a vida com seu histórico de tentativas amorosas falho, tentativas erradas mas tentativas. O que importa em tudo isso são as experiências que tira de cada relação, com cada um aprendeu uma coisa, com cada um fez história. E quando chegar seu príncipe encantado num cavalo branco, com uma rosa na lapela, lhe estendendo a mão, seu príncipe que lhe roubará o folego, os sentidos, as palavas, quando chegar, estará pronta, montará em seu cavalo sem olhar pra traz, sem pensar duas vezes e o "felizes para sempre" em fim acontecerá e lhe salvará de sofrer. Natan Gaia

sábado, 3 de março de 2012

Faz de conta


Fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, não Lóri mas o seu nome secreto que ela por enquanto ainda não podia usufruir, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro — pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver.

Clarice Lispector

sexta-feira, 2 de março de 2012


Estou melancólica. É de manhã. Mas conheço o segredo das manhãs puras. E descanso na melancolia. Sei da história de uma rosa. Parece-te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corante ou enxerto porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões.

Oh, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem. Não sei sequer o que vou te escrever na frase seguinte. A verdade última a gente nunca diz. Quem sabe da verdade que venha então. E fale. Ouviremos contritos.

.. eu o vi de repente e era um homem tão extraordinariamente bonito e viril que eu senti uma alegria de criação. Não é que eu o quisesse para mim assim como não quero o menino que vi com cabelos de arcanjo correndo atrás da bola. Eu queria somente olhar. O homem olhou um instante para mim e sorriu calmo: ele sabia o quanto era belo e sei que sabia que eu não o queria para mim. Sorriu porque não sentiu ameaça alguma. É que os seres excepcionais em qualquer sentido estão sujeitos a mais perigos que o comum das pessoas. Atravessei a rua e tomei um táxi. A brisa arrepiava-me os cabelos da nuca. E eu estava tão feliz que me encolhi no canto do táxi de medo porque a felicidade dói. E isto tudo causado pela visão do homem bonito. Eu continuava a não querê-lo para mim - gosto é das pessoas um pouco feias e ao mesmo tempo harmoniosas, mas ele de certa forma dera-me muito com o sorriso de camaradagem entre pessoas que se entendem. Tudo isso eu não entendia.
A coragem de viver: deixo oculto o que precisa ser oculto e precisa irradiar-se em segredo.
Calo-me.
Porque não sei qual é o meu segredo. Conta-me o teu, ensina-me sobre o secreto de cada um de nós. Não é segredo difamante. É apenas esse isto: segredo.
E não tem fórmulas.
Penso que agora terei que pedir licença para morrer um pouco. Com licença - sim? Não demoro. Obrigada.


Clarice Lispector - Do Livro Água Viva

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Num instante


Num instante

O teu sorriso surgiu do nada.
Não passou pela minha sala.
Nem ninguém o tocou no rádio.

O teu sorriso não teve início.
Não tem diploma, não tem missão,
e ninguém sabe sequer o seu ofício.

O teu sorriso não tem letra alguma.
O teu sorriso não ouviu palavras.
O teu sorriso não viu o mar.

O teu sorriso me viu, numa tarde nublada,
e não disse ao que veio.

Mas o seu efeito
partiu-me
ao
meio.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Você pode ser o proximo brinquedo !


Pra se dizer “eu te amo” a alguém há que se sentir mesmo! E amar não é tão simples assim. Amar é se doar,se doer, é aceitar, é ouvir, é estar junto, é dar e receber apoio, é ser cúmplice na vida e em todos os momentos sejam eles bons ou ruins, aliás na calmaria e quando tudo corre bem é tudo muito fácil, mas e quando as coisas não estão lá muito boas? ''Eu te amo'' é uma frase forte que pode acalmar um coração e ao mesmo tempo iludi-lo com um sentimento que na maioria das vezes nem chega perto do amor...
Carência, ilusão ou aquela necessidade de passar afeto, mas não seria suficiente dizer um ''eu gosto de você e pode contar comigo''? Ora essa! Eu te amo é muito lindo de dizer! Amar é maravilhoso, mas nós sabemos que entre dizer e sentir existe um grande diferencial.
Então se você ama diga sim “eu te amo”, mas se não sente esse amor, não estrapole e acima de tudo, NÃO BANALIZE O AMOR! O "eu te amo" foi tão banalizado que o "vai se fuder" chega a ser mais sincero. O amor é maravilhoso, é o mais completo dos sentimentos, valorizem-no dizendo “eu te amo” apenas quando amarem realmente...


Texto e imagem: "Sempre do seu lado"

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Colorir Papel *__*


É um vento que passa e que leva
Raia o brilho de cor amarela
Planta o pé no chão
O amor dando volta na terra
Arco íris de luz aquarela
Banda coração


Vamos ver o pôr do sol
Me dê a mão
Uma estrela só
Não é constelação
Sem destino vamos juntos
Passear feito nuvens no céu

Derramar a tinta colorir papel

E amanhecer nós dois
Perfume, bem me quer

Tem biscoito, queijo, bolo
Leite no café (...)

Vamos ver o pôr do sol
Me dê a mão
Uma estrela só
Não é constelação
Sem destino vamos juntos
Passear feito nuvens no céu
Derramar a tinta colorir papel
♪♪

Jammil'